É BOM PORQUE
Que livro surpreendente: após a morte da avó, quatro primas herdam a casa onde cresceram numa pequena aldeia espanhola e passam lá um fim-de-semana cada uma em busca da sua própria história. Uma saga de mulheres sobreviventes que vamos conhecendo através do seu mundo interno e dos seus pensamentos e o que liga cada uma delas àquela casa, material e espiritual. Com cada uma vamos vivendo as nossas próprias lutas: saúde mental, drogas, abusos, violência, maternidade, traumas e a "loucura" de todas (nós). Com toques de realismo mágico e (muito!) feminismo, emocionei-me muito e apaixonei-me por cada uma delas.
As Herdeiras de Aixa de la Cruz
PONTOS A FAVOR
😍 Algum realismo mágico
🗣️ Quatro narradoras
⌛️ Passada em apenas 3 dias
📚 Temas reflexivos: luto, saude mental, ser mulher, relações familiares, violência, drogas
SINOPSE
Passaram seis meses desde que Dona Carmen cortou os pulsos na banheira, e ainda ninguém percebeu porquê, pois tinha ao seu alcance comprimidos suficientes para acabar com a vida de outra maneira. Isto descobrem, intrigadas, as suas quatro netas - Lis, Erica, Olivia e Nora - quando se instalam na casa da aldeia onde a avó vivia e que lhes foi deixada em testamento.
Lis, que tem um filho pequeno, está ainda a recuperar de um trauma que sofreu ali dentro e só lhe interessa vender tudo e seguir em frente, enquanto a sua sonhadora irmã Erica planeia organizar no local retiros espirituais e passeios na natureza. Por sua vez, Olivia - a prima mais velha, que se formou em medicina por ter visto o pai morrer com um enfarte - não desiste de procurar em tudo o que é gaveta uma pista que explique o que realmente levou a avó a suicidar-se; e Nora, a sua desastrosa irmã, tem a ideia maluca de deixar o seu dealer usar o espaço como depósito de «mercadoria»; de resto, é ela quem a dada altura diz sem complacência: «Parece que um suicídio na família confirma a suspeita de sempre, de que a loucura corre nos genes, de que estamos biblicamente perdidas.»
Aixa de la Cruz constrói neste romance intenso e dramático - considerado um dos melhores livros de 2022 pelo jornal El País - a ideia da família como lugar de dissensão e calamidade, explorando a ténue fronteira que existe entre loucura e sanidade.