É BOM PORQUE
 
Confesso que não estava à espera de gostar tanto deste livro. Se queria ler sobre uma rapariga de 20 anos que engravida e decide entrar na plataforma OnlyFans para ganhar dinheiro? Não, nem por isso. Se esta leitura surpreende e desconstrói preconceitos, juizos de valor e nos mostra como somos tão rápidos a julgar as decisões dos outros? Sem dúvida! Acho que é mesmo uma leitura importante e reflexiva para as gerações de hoje e que nos traz uma personagem feminina resiliente, que nos emociona e com a qual criamos uma conexão. Margo acaba envolvida com o seu professor de inglês na universidade e, depois de engravidar, ele não quer ter mais nada que ver com ela ou com a gravidez, além disso, toda a gente à sua volta lhe diz para não ter o bebé, mas Margo não quer abortar e outra parte emocionante do livro é a força sobrehumana que uma mãe ganha para proteger o seu filho. Sem emprego, sem dinheiro e sem o apoio de ninguém, Margo vê-se sozinha numa espiral de desespero que a leva a criar uma conta no OnlyFans. E mesmo esta parte está escrita com bastante sensibilidade (e sentido de humor) e fez-me refletir nos meus próprios juizos de valor relativamente ao sexo e à internet. É impossível não torcermos pela Margo e pelos desafios que as mães solteiras têm de ultrapassar e como a sociedade é tão rápida a julgar as mulheres jovens, mas legitima os comportamentos dos homens mais velhos. E no final do dia, a Margo é como todas nós, em busca de si mesma e de amigos e uma família, a tentar fazer malabarismos entre o stress financeiro e a sua sanidade, levando o leitor a mergulhar no que é sentirmo-nos constantemente preocupados com dinheiro e como essa ansiedade se pode infiltrar em todas as esferas da nossa vida. Uma história humana e agonizante sobre os julgamentos da sociedade e embora todas estas personagens possam aparentemente dar-nos razões para torcermos contra elas... prometo que vão ficar colados à história exatamente pela razão oposta.